DEFENDENDO O DUNGA

Iniciamos hoje uma série de artigos sobre a Copa do Mundo, dando aos colegas a oportunidade de debater "o assunto mais importante dentre os menos importantes": o futebol! Desçam a letra aí!

Talvez neste momento apoiar o Dunga seja o mesmo que defender o indefensável. Mas vou bancar o advogado do diabo: não acho que a sua convocação tenha sido errada. Tá certo que não precisava ter tido assim taaaanta coerência; afinal de contas, uma decisão diferente do normal e esperado, uma ousadinha aqui e ali, são sempre bem vindas, ainda mais no imprevisível mundo do futebol. Mas a execrada “lista do Dunga”, pelo menos para mim, não parece absurda.

É claro que eu, você e todo brasileiro temos as nossas preferências. Mas dificilmente um jogador que a gente defende e que não tenha sido chamado pelo “professor” iria mudar o preço do Dólar se estivesse vestindo a amarelinha na África do Sul mês que vem.

A voz do povo
Toda Copa do Mundo tem a sua e, em 2010, a comoção popular se deu em torno dos nomes dos “Meninos da Vila”, Paulo Henrique Ganso e Neymar. Sobre eles, acho que ainda há muito a observar, comentar, esperar, apreciar.

É inegável o talento dos moleques – e isso nem o Dunga ousou contestar. Mas será que dá pra cravar que eles não iriam sentir a pressão de estrear pela Seleção principal justo numa Copa do Mundo? Em que momento do jogo seria ideal colocá-los em campo? Será que eles seriam a solução pra uma partida truncada, difícil? Ou será que só entrariam em jogos decididos, pra quebrar o gelo das estréias? Se fosse para isso, valeria a pena levá-los? Ganso substituiria Kaká com naturalidade, não sentiria a pressão de ter que decidir? Teria a mesma liberdade pra armar que tem em solo brasileiro? Neymar conseguiria fazer todas as molecagens que faz por aqui, contra defesas despreparadas e mal-armadas, zagueiros lentos e pouco inteligentes? Ele é mesmo um fenômeno comparável a Pelé ou é mais um novo Robinho, que também irá sofrer bastante contra os bons defensores que jogam na Europa? Na verdade, ninguém de nós pode responder com firmeza qualquer uma dessas perguntas, seja positiva ou negativamente.

Alguns fatos recentes podem ter influenciado a decisão do Dunga: Neymar foi expulso num clássico diante do Palmeiras, quando o Santos havia sofrido a virada. Perdeu a cabeça por algum motivo qualquer e inclusive xingou e desafiou o juiz depois de levar o cartão. Num momento em que era pressionado, Ganso deu uma cotovelada criminosa em Dagoberto na primeira semifinal do Paulistão, o que, por sorte sua, não foi visto pelo trio de arbitragem e não teve maiores conseqüências. Seriam esses indícios de que eles ainda não estão prontos? Dunga justificou com as atuações insatisfatórias que ambos tiveram no Mundial sub-17, no ano passado, mas não penso que esse tenha sido o principal motivo.

Contudo, chamo os amigos para uma reflexão interessante: será que a nossa vontade de vê-los na Seleção não leva consigo outros motivos, como a nova “síndrome de vira-latas” que assola o futebol brasileiro? Ora, tudo o que é de excelência no atual mundo da bola, pelo senso comum, está em solo europeu. A nós, pobres mortais, sobra “a rapa”. Quem fica por aqui, é porque ainda não tem “cancha” pra jogar na Europa ou porque, como tem acontecido recentemente, já enjoou da “cultura do Velho Mundo” e prefere passar os últimos anos da carreira nos bailes funk da Favela da Chatuba.

Ocorre que nós moramos aqui e é aqui que nos divertimos com o futebol! Temos que “engolir” os estaduais, Copa do Brasil, Sul-Americana, Brasileirão da Série B. Champions League e Premier League, às vezes, nos irritam: “Por que eles têm que ser melhores que nós?”; “O Eduzinho, volante do Quixeramobim, joga muito mais que aquele tal de Lampard!”. Então, quando aparecem um Ganso e um Neymar, é natural que queiramos ir à forra: “Vamos mostrar pra esses europeus quem somos nós!”; “Duvido que eles conheçam esses moleques! Vão ter que nos engolir!”. Pegue uma seleção sem grandes destaques, que sofre um natural processo de renovação e não tem lá muitas unanimidades, some uma escassez mundial de jogadores “diferenciados”, que possam mudar um jogo simplesmente por estarem em campo, e pronto! Está montado o cenário para que o nosso desejo mais profundo venha à tona e se transforme em verdade absoluta. Levar os “Meninos” à Copa, ganha o status de obrigação.

Mas no fundo, no fundo, a verdade é que nem nós sabemos direito se os moleques dariam conta... e será que, no mundo da informação em que vivemos, eles seriam assim tão desconhecidos dos treinadores e jogadores europeus, caso fossem convocados? Por essas e outras, é compreensível que o treinador da seleção brasileira tenha preferido contar com quem ele já testou. Como esses garotos seriam recebidos pelos outros? Será que são bons de grupo, estariam preparados pra pensar de acordo com os jogadores consagrados e rodados com que irão conviver? Ou formariam uma “panelinha” com Robinho e alguns outros? Essas respostas, nem Dunga saberia dar, pois jamais os convocou. E por isso não os chamou para a Copa.

Essas são as minhas impressões sobre os motivos pelos quais Dunga preferiu não levar à Copa do Mundo os novos meninos-prodígio do futebol brasileiro. O que não quer dizer que eu não os levaria... mas, não esqueçamos, nem eu e nem você somos os técnicos da Seleção. No próximo post, trataremos do restante dessa lista. Cornetem aí!!!